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domingo, 6 de fevereiro de 2011

AUTOMEDICAÇÃO E SEUS RISCOS...

Há mais de três anos, no centro de Porto Alegre, uma senhora aparentando 70 anos chegou à farmácia pedindo um creme clareador para o rosto. Pretendia suavizar uma mancha. Desconfiada, a gerente-farmacêutica da Panvel da Rua Doutor Flores, Zelma Padilha, recomendou que ela procurasse um médico. Três meses depois, a mesma cliente retornou em busca de protetores solares potentes. Havia recebido o diagnóstico de câncer de pele, a tempo de tratar.

Em outra oportunidade, um senhor chegou vomitando à loja em que Zelma trabalha. Para aplacar a dor de estômago, que pensara ter adquirido ao lanchar ali perto, pediu um antiácido. A farmacêutica notou que ele estava pálido e suava muito. Desconfiada de que se tratava de um problema cardíaco, chamou a Samu. Dito e feito. O homem estava infartando.

Cenas como essas são corriqueiras em farmácias de todo o país. Por medo de descobrir uma doença mais grave ou falta de tempo para um atendimento clínico, pessoas buscam alívio para seus sintomas na automedicação. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Methodus analisou a compra e uso de medicamentos na Capital e Região Metropolitana e descobriu que apenas 28% das pessoas entrevistadas utilizaram medicação prescrita por um médico, contra 72% que revelou fazer uso de remédios sem prescrição. Quando questionados sobre a fonte de informação para o uso do remédio, 34% revelou seguir sugestão de amigos e parentes e 28% admitiu ter sido recomendado pelo balconista.

— Há automedicação em todas as classes econômicas, mas ela parece ser menor nas classes com menor poder aquisitivo, que só tem acesso a medicamentos através do Sistema Único de Saúde — explica o Coordenador da Área Clínica da Emergência do Hospital Moinhos de Vento, o médico intensivista Flávio André Cardona Alves.

Tratar da saúde por conta própria é uma decisão arriscada e que pode ser fatal, afirmam os especialistas. Além de todo os danos que uma interação medicamentosa feita de maneira errada pode causar, como intoxicação e anulação no efeito de um um dos dois princípios ativos, a automedicação pode tratar os sintomas e mascarar a doença original. A coordenadora da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Leila Beltrami Moreira, lembra que o sucesso no tratamento de qualquer enfermidade depende de vários fatores, que incluem uso de medicamentos, em alguns casos, mas que depende também de um diagnóstico correto.

— Se o paciente tem uma dor e sai tomando o remédio que serve para o vizinho, ele pode estar mascarando uma doença e perdendo tempo de encontrar a melhor solução para o seu problema — afirma Leila.

São os analgésicos, antibióticos e anti-inflamatórios os líderes na procura sem prescrição. O fato de terem venda livre não significa que estejam liberados para consumo ilimitado, detalha Leila. O Paracetamol é um exemplo típico. Analgésico e antitérmico, tem boa eficácia e segurança se respeitada a dosagem diária, que não deve ultrapassar seis gramas. Ou seja, os de 500 mg devem ser administrados, no mínimo, a cada quatro horas, e o de 750 mg, a cada seis.

NÚMERO

A Associação Brasileira de Indústrias Farmacêuticas (Abifarma) estima que 80 milhões de pessoas pratiquem a automedicação no Brasil

Alerta vermelho

O que mais preocupa os profissionais da saúde:

1— Uso indiscriminado de Paracetamol: a substância, no fígado, é transformada em metabólito intermediário, que pode resultar em lesões hepáticas. No Reino Unido, uma pesquisa recente mostrou que ele era o maior causador de transplante de fígado.

2— Associações com outros medicamentos ou alimentos: a melhor forma de ingerir o medicamento é com água. Café preto, refrigerante, sucos de frutas e leite podem alterar a composição do medicamento ou o pH (acidez) do trato digestório, onde é absorvido, minimizando ou aumentando os efeitos. Além disso, muitos remédios interferem na ação do outro, podendo bloquear ou causar uma intoxicação.

3 — Uso de medicamentos para qualquer problema: o medicamento só deve ser administrado em último caso. O colesterol é um bom exemplo. Só se começa a administração da substância quando já se tentou regular com dieta e exercícios físicos.

Sintomas que mais levam a automedicação

Cefaléia 43%

Gripes e resfriados 13%

Pirose (hiperacidez gástrica) 9%

Outros 35%

PRESTE ATENÇÃO

ANTIBIÓTICOS: O uso indiscriminado de antibióticos pode causar resistência antimicrobiana, levando a maior dificuldade de tratar infecções atuais e futuras.

ANTIINFLAMATÓRIOS: Aumentam a produção de ácido clorídrico e reduzem a de muco, que protege o estômago. Se o paciente já tem gastrite ou úlcera, pode acarretar em um sangramento. O abuso pode ocasionar ainda insuficiência renal.

REMÉDIOS PARA EMAGRECER: Hipertensos não devem tomar essas pílulas, pois eles aumentam a pressão arterial.

RELAXANTES MUSCULARES: Provocam sonolência. É preciso ter cuidado ao tomar para não praticar atividades que exijam atenção.

FITOTERÁPICOS: Também podem oferecer riscos com superdosagem e interferir no efeito de outros medicamentos.

ANSIOLÍTICOS: Seu uso crônico causa dificuldade de concentração e raciocínio, além de dependência.

COMBINAÇÕES EXPLOSIVAS

Amoxicilina (antibiótico) + anticoncepcional oral = risco de gravidez indesejada.

Diurético + lítio (estabilizador de humor usado para tratar transtorno bipolar) = potencializa os efeitos adversos do lítio, podendo causar náuseas, fraqueza muscular, tremores, vômitos, perda de função renal, alteração da função da tireóide e confusão mental.

Aspirina + anticoagulantes orais = aumenta o risco de sangramento, podendo levar à hemorragia.

Omeprazol (antiácido) + Varfarina (anticoagulante): o primeiro aumenta a concentração sanguínea da varfarina, podendo haver hemorragia.

Captopril (anti-hipertensivo)+ sucos = tem a absorção prejudicada.

Tetraciclina antibiótico + leite ou antiácidos = o leite possui cálcio que, associado ao antibiótico, pode zerar o efeito do medicamento.

Dexametasona Oral (corticóide, antiinflamatório) + medicamentos para o diabetes = a dexametasona aumenta a glicemia, ou seja, eleva o açúcar no sangue.

Paracetamol + diclofenaco, nimesulida (antiinflamatório) = pode potencializar ou agravar doenças hepáticas e renais.

Fontes: professora da Faculdade de Farmácia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Flávia Valladão Thiesen, coordenadora da Comissão de Medicamentos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Leila Beltrami Moreira, chefe das Emergências da Santa Casa de Porto Alegre, Leonardo Fernandez.

Fonte Publicação: www.clicrbs.com.br
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/bem-estar/19,0,3198130,Apesar-de-alertas-automedicacao-continua-sendo-pratica-corriqueira.html



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